Os ritos de reverência aos antepassados é um costume que os africanos trouxeram para o Brasil, como na cerimônia de Coroação do Congo, onde elegiam seus reis e rainhas, lamentavam seus mortos e pediam proteção aos Orixás. Na cosmovisão africana acredita-se que a fala é a exteriorização de uma vibração, de uma energia. Para a tradição africana a fala não se restringe ao verbo, a natureza toda fala, elementos minerais, vegetais e animais falam, pois são atravessados de energias. O corpo humano fala, através do movimento, principalmente pela dança e a musicalidade dos instrumentos, suas energias agirem. O tambor se destaca enquanto fala, uma vez que seu som primordial aproxima-se dos batimentos do coração e foi segundo vários mitos, criado para facilitar a comunicação com o divino, mediante toques específicos. Os orixás, enquanto energias da natureza divinizadas pedem para serem chamados pelo tambor para se incorporarem nos seus filhos e filhas. Sua sonoridade envolvente tem um poder hipnótico sobre adeptos de candomblé, umbanda e demais religiosidades afro-brasileiras, representando um elo mágico entre as criaturas humanas e as divindades, espécie de meio de comunicação entre o mundo material e o mundo espiritual dos Orixás. Por outro lado o tambor tem lugar de destaque em todas as manifestações afro-brasileiras, das quais se sabem, são oriundas das religiosidades tradicionais africanas, tornando-se o tambor, portanto, o principal instrumento dos batuques dos Maracatus e Afoxés.
A realização do evento “Tambores Ancestrais na Noite Escura” agrega um conjunto de valores históricos, ritualísticos e culturais ao Carnaval de Rua de Fortaleza, que tem hoje nos Maracatus (16 grupos institucionalizados) sua maior força representativa e estética, como também nos Afoxés a importante presença simbólica dos elementos de religiosidade africana e de reverência aos seus ancestrais e aos índios, enquanto primeiros habitantes do Brasil.
Reunir Maracatus, Afoxés e o público em geral em torno da idéia desta programação é uma forma justificável de aprofundar e diversificar a programação do carnaval de Fortaleza e também do Estado do Ceará, pois com sua formatação e estética única é mais uma afirmação da presença das culturas de matriz afro e indígena nas práticas cotidianas do povo cearense.
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